BOAS ONDAS DE OUTONO

O outono ta na área com tempo bom, mas infelizmente com a pandemia do coronavírus não estamos atendendo, mas assim que passar esperamos boas ondas no inverno que já está as portas, época de ótimas ondas. Época boa para aprender a surfar, a temperatura da água por aqui é super agradável mesmo no inverno. Aproveite a oportunidade para surfar ou aprender O STAND UP Paddle (remar com remo em cima da prancha). O Litoral norte é privilegiado com muitas praias, rio e lagoas, além é claro; das ondas.
Aproveite e venha desfrutar das melhores ondas da estação. Aulas em grupos ou individuais com pacotes familiares.
A praia do Sapê em Maranduba Ubatuba é uma das melhores opções de ondas para iniciantes e para remadas de Stand up Paddle (SUP). Localização é das melhores, fica entre Caraguá e Ubatuba, ha 23 km do centro Caraguá e 25 Km de Ubatuba. Aproveite, reúna a família e venha fazer aulas com o experiente Professor Luciano Sant'anna, credenciado internacionalmente com mais de 3 décadas na prática no esporte.
O ambiente é totalmente familiar com aulas para todas as idades, desde seu bebê que já tem intimidade com o meio líquido, até o vovô e a vovó poderão experimentar, principalmente os passeios de Standu Up (SUP TOUR) na Ilha do Pontal que fica a 400 metros da praia. As aulas são ministradas com muita atenção, amor e segurança, numa zona de conforto com água na altura da cintura. Pranchas especiais ( soft board's - borracha) para garantir a segurança total do aluno, sempre respeitando o limíte dos alunos. Ensinamos e aperfeiçoamos todos os níveis, desde o iniciantes, intermediário e avançados.













quarta-feira, 6 de julho de 2011

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Por Luciano sant'anna

MARCO ANTONIO FONSECA
, mais conhecido carinhosamente pela galera do surf local como “Marcão”. Dono de um estilo clássico que o levou a categoria de surfista mais estilizo de todos os tempos em Caraguá SP ele continua na ativa com seus 51 anos surfando de pranchinha ainda. Não poderia deixar de passar em branco Esse que foi e sempre será um dos ídolos do surf em Caraguatatuba, que influenciou muita gente e marcou época ao vencer os primeiros campeonatos aqui.




Marcão ainda pega bons tubos no quintal de casa - Matin de Sá - foto Robson Toledo


Luciano Sant’anna – Aonde foi que você ficou em pé pela primeira vez numa prancha de surf?

MARCÃO - Na praia do Sapê em Outubro de 1975. Naquela época eu morava na mesma rua que o “Carioquinha” (Zé Carlos) veio morar assim que chegou do Rio de Janeiro, com o tempo ficamos amigos e começamos passar o tempo desmontando patins para fabricar nossos primeiros Skates. O “Carioquinha” descolou não sei de onde uma prancha toda furada e sem bico. Era uma prancha “pro” mesmo (problema) “risos”. Consertamos com massa plástica e no final de semana fomos até a praia do Sapê com seu tio o Sr. Manuele.




Marcão com sua homero em 1975 na praia do sapê em Ubatuba, aonde foi um dos desbravadores-foto arquivo pessoal

Na praia fui me ambientando com o lugar e vendo a ilha que a divide a praia do Sapê com a Lagoinha e as linhas de ondulação que vinham de longe. Na arrebentação dando minhas primeiras braçadas neste mundo do surf que estava só começando, fui aprendendo a cada erro, me ajustando em situações novas, a cada instante que aquela prancha "pré-histórica" me punha a vivenciar, tomei umas boas “vacas” de principiante, mas quando remei certo no tempo certo da onda, a prancha começou a deslizar para o lado certo da onda também aí fiquei em pé com os braços abertos me equilibrando surfei uns 5 metros de distância que foram “alucinante”e determinantes nessa minha carreira que já duram 36 anos. Hoje em dia, sinto a mesma coisa boa quando estou surfando, é muito bom. Eu e o Carioquinha jamais conseguiríamos imaginar que naquele final de semana de Outubro 1975 estariamos implantando e dando início ao crescimento do Surf na região e na nossa cidade.

Luciano Sant’anna – Alguns dizem que você foi o primeiro surfista da cidade, isso é verdade ou lenda ?

MARCÃO - Eu fui uns dos primeiros surfistas de Caraguá, não sei se ouve realmente esse primeiro surfista, mas acredito nos primeiros surfistas, porque naquela época ninguém era louco de entrar no mar sozinho, era o início de tudo, faltava o conhecimento dos lugares nunca antes surfados ou pouquíssima vezes. Por exemplo: o Boqueirão, Boqueirão da Costeira, Boqueirão dois (Picos próximo a famosa Pedra do jacaré), Martin de Sá, Costão da Brava, Brava, Lagoa Azul e Massaguaçú. Naquela época um puxava o outro para novos Picos e assim as fronteiras desse novo esporte foram se ampliando. Eu pertenço a essa primeira geração de surfistas que realmente abriu as portas do esporte na Cidade. E em um tempo que não existiam nem ao menos uma revista especializada em surf (a Revista Brasil Surf) estava para nascer, filmes de surf em fitas e DVs nem sonhar, loja de surf e fabrica de pranchas não havia, roupa de borracha, cordinha e a parafina eram artigos de luxo, para comprar só indo a capital. Aqui em Caraguá só depois de uns 3 anos o Renato “Casamar”e o Luiz José abriram a primeira loja de surf perto do Colégio Thomas. A internet estava a décadas para chegar, previsão das ondas era feita olhando para os navios na Ilha Bela para ver se as águas estavam para leste ou sul, também a direção do vento associado com os ciclos de maré e condições do tempo em geral, tudo no "olhomedro" mesmo. Existia outro agravante, era os Anos de Chumbo o Ai-5 a ditadura militar vigentes na época e que não via com bons olhos os surfistas com seu estilo liberto e seus cabelos compridos e parafinados. Tinha até um jargão que surgiu nos meios policiais da época que dizia em alto e bom som: “nem todo o maconheiro é surfista, mas todo surfista é maconheiro” Isso nos levou a ser marginalizados por algumas pessoas que não gostavam da novidade do esporte, mas nada tirou a nossa coragem e determinação em prosseguir com a nossa curiosidade e tudo foi feito na intuição, criatividade, improviso, atitude para poder Surfar as ondas e dar uns dribles nos “homens” para não nos pego sem lenço e sem documento.


dois momentos históricos na mesma praia mais de 30 anos depois. Marcão a esquerda com os amigos Wilson Cardoso e Julião de Sjcampos- foto: arquivo pessoal


Luciano Sant’anna – Como eram as ondas por aqui na época?

MARCÃO - O mar naquela época era mais forte, não existiam prédios em frente as praia da Martin de Sá, só os dois prédios redondo e que estavam embargados e a um quarteirão da praia. A nossa natureza era preservada com muita vegetação nas praias (jundú) todo esse eco sistema influenciavam no tamanho, formação e textura das nossas ondas e com certeza as ondulações era mais constantes e maiores. Teve uma época que o Boqueirão (em Frente a Pedra do jacaré na prainha) quebrou muito em 1977 e se prolongou para o verão de 1978 quando, surgiu um banco de areia enorme que saia da lage e passava embaixo da Pedra do Jacaré indo até a virada da costeira da Martim, fez com que rolassem altas ondas com uma incrível qualidade. E este fenômeno natural deixou muitas saudades para aqueles primeiros surfistas que surfaram aquelas ondas perfeitas do famoso (Boqueirão da Cuspida), todo mundo sabia quem colocasse a prancha junto a espuma era vaca na certa de tamanha força que a união de duas ondas, a normal e a replica que vinha da costeira e se juntavam fazendo um triangulo deixando o drop era vertical, foi a melhor onda da época em Caraguá.



Anos dourados do Boqueirão (Pedra do Jacaré) com poucos amigos no Pico- foto arquivo A.S.C


Luciano Sant’anna – Quem você lembra que surfava naquela época?

MARCÃO - Os surfistas das antigas e a primeira Geração de surfista de Caraguá foram: Eu (Marcão), Bilão, Kaco, Edson Bola, Carioquinha, Nê, Celsão, Wilson Cardoso, Mauro Apingorá o Maurão e seus irmãos Marquinhos e Marcelo “Macarrão”, Paulinho Meireles, Duduca, Roberto Cesar, os irmãos Serginho Burihan e Salim Burihan, Moises, Vavá, Pipico, Kimio, Beto Preto, Marcos Chevete, Paulinho Gama, Niltão, Ruy Noronha, Chiquinho Carcará, Flavinho, Ari Macaca, Parodi, Pedrão do Massaguaçú, Pajé, Cabral, João Alarcon, , Lealzinho, James, Zé Ico, Os dois Baianos que esqueci os nomes. Os Paulistanos: Fernandinho Waack primo do Wilian Waak da Globo, Volelo, Os irmãos Padilhas, Os irmãos Marcianos de São Paulo. Adrian, Felipe, Huguinho, Cristian e Igor. A tuma de São José dos campos: Julião, Dimão, Bigode, Claudinho, Zan, Chiqui Chiqui, Dr.Vanderlan e Juarezinho Saloni, desculpa se esqueci de alguém.

Luciano Sant’anna - Quem te incentivou a surfar?

MARCÃO - Foi o meu primo Ornetes, (fera do skate) que teve um papel muito importante me convidando para assistir um campeonato na Praia Grande em l972(festival brasileiro de surf), que foi um dos primeiros daquela época. Tinha gente de uns 3 estados disputando, na época era considerado um grande campeonato de bom porte.
O engraçado é que meu primo, teve que ir à casa dos meus pais pedir autorização para eu poder ir assistir o campeonato, eu tinha 12 anos e iria fazer minha primeira viagem a Ubatuba sem a presença dos meus pais, que deixaram, delirei, pois a educação naquele tempo era severa mesmo. Era muito mais fácil a gente escutar não do que sim para qualquer coisa que queríamos fazer.

Luciano Sant’anna - O quem mais te influenciou para praticar o Esporte?

MARCÃO - Com certeza foi o contato com esse campeonato em 72 em Ubatuba, depois vieram os filmes da sessão da tarde, onde a gente assistia: Mar raivoso etc, teve ainda nascimento do skate na cidade, onde começamos andar com meu grande amigo Edson Bola (hoje na ilha Bela) e sua Kombi a descer de skate o morro do Jetuba a noite. Na seqüência foi o Surf mesmo que se espalhou por nossas praias e grande parte da nossa geração se tornou surfista ou curtir com a gente nas praias e nas ondas daqueles tempos. Foi nessa “vibe” entre nós surfistas e o pessoal que curtia a praia e a natureza num ambiente muito amistoso, este foi o astral em que o surf Caraguatatubense nasceu.

Luciano Sant’anna - A primeira prancha como conseguiu?

MARCÃO - Foi uma coisa de Deus mesmo, a minha mãe foi uma das primeiras corretoras de imóveis de todo litoral norte. Ela alugou uma casa de temporada para dois cariocas, E ocorreu que eles devem ter arrumado algumas ondas boas ou gatinhas e voltaram implorando a ela para ficar mais dois dias e que o pagamento do aluguel seria feito com as duas pranchas de surf. Uma era da marca Homero e a outra não tinha marca ou nome algum, e por incrível que pareça, minha mãe aceitou. Um dia cheguei da rua com o meu skate fabricado por mim mesmo, fui para meu quarto e dei de cara com aquelas duas pranchas. Com certeza foi uns dos dias mais felizes da minha vida, logo fui comprar o kit surf: Bermuda florida marca “Primo João”(que era uma antiga loja de roupas já extinta do empresário já falecido, mais conhecido por Primo João), cordinha feita do elástico de calção que a mãe da gente comprava em loja de tecido e uma meia amarrada a canela, unida com o entrelaçado desse elástico amarrado no (furo) da quilha o melhor deste equipamento era a sua volta, imagine uma gunzeira e você caindo da ondo, ela vai esticando, esticando até o final, depois voltava 2 vezes mais rápido e com a rabeta e as quilhas mirando para sua testa, foi assim que se aprendia a mergulhar na marra para se livrar da prancha. Com o tempo fomos evoluindo, passando de Gunzeira (canhões) para as Mini Model: Mono Quilha, Biquilhas, Quadriquilhas que vieram antes das Triquilhas os Funs e os Longs (falo das quadriquilhas, pois mesmo antes das triquilhas aparecerem junto com o shaper Derly, desenvolvemos uma prancha de quatro quilhas e nem sabíamos que o Ricardo Bocão do Rio de janeiro ia começar a fabricar).




Marcão já batia e decia de rabeta nas merrecas do Sapê no início dos anos 80 - foto arquivo pessoal

Luciano Sant’anna – Aonde foi o primeiro campeonato que participou?

MARCÃO - Foi na praia do Sapê em 16 e 17 de Julho de 1976, foi o primeiro Campeonato de Caraguatatuba. Na época tinha o nome de 1º F.I.S.C. ( FESTIVAL INTERNO DE SURF DE CARAGUATATUBA ) que perdurou mais ou menos até 1983, que foram mudando os formatos dos campeonatos de festivais para circuitos divididos em etapas com isso nos não sei quantos campeonatos aconteceram em Caraguatatuba e quais foram os campeões no período entre 1976 a 2011.

Luciano Sant’anna – foram mais de 70 campeonatos já Marcão e mais de 100 campeões divididos em diversas categorias, fala mais sobre o tal campeonato F.I.S.C.

MARCÃO - Voltando ao assunto do F.I.S.C de Surf, eu tinha 16 anos e 9 para 10 meses de surf e já tinha trocado a minha prancha sem nome por uma prancha Peninha do Rio de Janeiro que era ótima, e com ela evolui muito rápido, me tornei o primeiro campeão do primeiro campeonato de Caraguá, isso tudo nas antigas, quando rolava altas ondas para delírio da galera que compareciam em massa nas praias dando mais colorido aos festivais de Surf.


público presente nos Festivais de surf na praia do sapê no final dos anos 70 e inicio dos anos 80 - foto arquivo A.S.C


Luciano Sant’anna – Como começou essas competições aqui e quem te incentivou no começo a competir?

MARCÃO - Os surfistas das antigas da primeira geração, nos reunimos e chegamos a uma conclusão, que já se tinha um bom numero de surfista na cidade 25 a 30 no máximo, tomamos a decisão de ir até a prefeitura pedir ao prefeito que nos cedesse um palanque, camisetas, mimiógrafo/alcool (tipo impressora pré histórica que utilizava alcool na tinta ) para fazer a impressões dos cartazes do 1º) F.I.S.C 1º) FESTIVAL INTERNO DE SURF DE CARAGUATATUBA. Cartazes que foram colado nos poste de luz e nos comércios do centro da cidade, cederam também um caminhão e pessoal para armar e desmontar o palanque. No mar quebraram boas ondas nos dois dias do evento, legal é que a curiosidade das pessoas levou muita gente da cidade a esse primeiro campeonato de surf e com isto muita gente que foi assistir se amarrou no esporte e também começaram a surfar, nascendo assim a segunda geração de surfistas.


Luciano Sant’anna – Você tinha Patrocínio ?

MARCÃO - Sim! Tive os meus “pranchascinadores”. O esporte estava nascendo e praticamente não se ganhava nada, mas quem me ajudou muito foram meus amigos: o Shaper Derly e sua esposa Marlete da fábrica de pranchas Litoral Norte Surfboards. Eu e o Bilão, formamos a primeira equipe de surf de Caraguá da Litoral Norte SurfBoards e ganhamos vários campeonatos, chegamos a ganhar de um dos melhores surfistas de Ubatuba na época, o Augusto Motta. A loja Good Store do meu amigo Well também me levou para competir no primeiro campeonato de Maresias aonde fiquei com o 2º lugar e a O/A (Ocean Atlântico surfWear) antiga marca de surf já estinta.




premeação do camp litoral norte surfboads na praia do Sapê. Joy a esquerda, Alex Romero ao centro um do seus maiores rivais da época Marcão a direita e ao fundo amigo Babão. O último a direita não identificamos ainda -arquivo pessoal

Luciano Sant’anna – Sendo o primeiro Campão de surf em Caraguá, Como você se sente por isso?

MARCÃO - Não só campeão da época dos Festivais, mas cheguei a ser hexa-campeão de l976 a 1983, e ser Campeão era um sonho desde o início e graças a Deus ele me deu 6 campeonatos nos bons tempos, e agora me permite surfar com uma 6,4 aos 51 anos. Ainda to pegando umas ondas, vejo que tudo isso valeu a pena, lutamos muito para que esse esporte fosse aceito em nossa cidade, quando era marginalizado. Hoje aqui tanto tempo depois, temos varias lojas de surf, fabricas de pranchas, aulas de surf e fotógrafos de surf e muitos seguimentos que se somaram ao esporte. Hoje me sinto como se tivesse assistindo a um bom filme de Surf.

Luciano Sant’anna - E fora da cidade quais foram os campeonatos que marcaram sua vida?

MARCÃO - Tem dois em especial o 1º Campeonato de Maresias de Surf de 1979, que tinha surfistas de Santos, Ubatuba, São Sebastião, Ilha Bela e São Paulo. Eu tinha vencido um campeonato no Sapê um mês antes desse. Fui muito confiante e quase perdi na primeira bateria, indo para a repescagem que rolavam naquela época. Aí mais atento usei tudo que sabia de backside nas direitas do canto do Moreira e passei por varias baterias, logo estava na final e peguei muito sem dar chances aos adversários. Sem de dúvida da minha vitória e para meu espanto os organizadores do evento me chamaram para uma reunião antes de sair o resultado da final. Na reunião falaram que Caraguá estava bem no surf, Ubatuba nem precisava comentar a sua superioridade, mas como São Sebastião, ainda estava atrasada no esporte, os organizadores alegaram que dando um campeonato para um Sebastianense (mas que era nascido em SP.) faria com que o surf se desenvolveria mais rápido por la, e desenvolveu muito mesmo como vemos hoje em dia, Com essa atitude não deixaram eu me tornar primeiro campeão do 1º Campeonato de Surf de São Sebastião. Pra mim foi difícil saber que tudo isto aconteceu de fato comigo e até hoje não me conformo.




1º Campeonato de São Sebastião - MARESIAS 1979 - arquivo pessoal





Marcão a esquerda de vermelho outros atletas não identificados - MARESIAS 1979. Arq. pessoal

outro Campeonato que marcou minha vida foi a 1ª Copa Imagem de Surf em São Sebastião na praia de Guaecá em 1984. Em Janeiro daquele ano tinha sofrido um grave acidente de moto em que o guidão bateu em minha barriga esfacelando que acabei perdendo. E depois em minha recuperação eu ficava sabendo de certos comentários maldosos, mas com fé em Deus e acreditando no meu potencial, depois de 1 mês operado fui no Boqueirão ver se dava para surfar, resultado fiquei de cabeça para baixo com a cordinha enroscada na costeira e vendo os 23 pontos na minha barriga e não conseguia surfar, pois os pontos eram recente demais, mas mesmo assim depois de um mês fiquei em 5º no campeonato do Sapê e um mês e meio depois do acidente, fiquei sabendo da Copa Imagem na praia do Guaecá, fui de moto e na saída de Caraguá encontrei o Zé Mario (instrutor de vôo livre) que adora pegar onda também com uma galera e no meio deles o professor Silvão do Karatê que estava no carro, quando me viu insistiu queria iria comigo de moto de qualquer jeito, pegamos o capacete de soldado alemão na casa dele e fomos embora. Na praia do Guaecá lotada, o professor Silvão fico chegou pilhado já, provocando a galera disendo: eu vim para ajudar o Marquinho (Marcão)levar o troféu para casa. A galera não se metia com ele e o medo de falar alguma coisa que o professor faixa preta de karatê não gosta-se. Tava sem prancha, mas como a segurança garantinda, ai fui emprestado uma prancha diferente que nunca tinha surfado, fui passando as baterias até chegar a final e quando isso se deu peguei a melhor onda da final, dei duas batidas de backside uma atrás da outra e um competidor me rabeou na cara dura, entrou na minha onda na cara dura em pleno campeonato e pegou um tubinho no inside e deram o campeonato pra ele, afinal dos 4 juizes 3 eram da cidade dele. Acho que eles não gostavam da idéia de um surfista de uma cidade que era considerada sem ondas como Caraguá a ganhasse deles, mas nada naquele dia me punha para baixo fui o vice-campeão mesmo assim e ganhei da maioria incluindo aqueles surfistas profissionais que na época já viajavam pra treinarem no Perú por conta da empresa que os patrocinavam. Foi um dia tão emocionante, quando coloquei o troféu sobre o tanque da moto, meus olhos lacrimejaram devido a emoção que senti. Mesmo com a operação e um rim a menos, não foram suficientes para impedir meu talento brilhar aquele dia.




Copa Imagem de surf em 1984 em Guaecá - foto Arquivo A.S.C



LUCIANO SANT’ANNA – Qual barca que (viagem ou trip com os amigos das antigas) mais marcou sua vida.

MARCÃO - Foi numa canoa caiçara em 1977, eu e meu grande amigo kaco (Manoel Ferreira) um dos melhores mergulhadores que fazia caça submarina na região. O cara conhecia tudo, contou pra mim e pro Serginho Burihan, que em frente na lagoa azul na praia do Capricórnio, quando a lagoa estourava quebravam umas ondas tubulares e perfeitas para o dois lados. Ele pediu para seu pai, o Seu Tião, para emprestar a canoa caiçara a motor para a tal “trip” até a lagoa Lagoa Azul (Pico Laguinho).
Então saímos da frente da casa dele ali onde é hoje a Marina Camaroeiro em direção ao pico da lagoa. Entramos mar adentro, fomos nos três, descobir um novo pico da cidade, chegamos ali numa mistura de temor e ansiedade porque, pois seiamos os primeiros surfista a estar ali em ondas nunca surfadas.
As ondas estavam muito boas, mas no que olhamos para a linha do horizonte, percebemos que o canoa estava virada, no desespero desviramos e empurrando para o raso, para tirar a água, não teve outro jeito e quando já estávamos a poucos metros da areia, veio uma serie que arrancou o motor do barco. O Kaco foi buscá-lo no fundo, eu fiquei com o tanque de gasolina e o Serginho com as três pranchas. Na praia levamos as coisas para próximo a lagoa, viramos a procuramos da canoa, percebemos que ouve uma metamorfose. (“Risos”) a canoa se transformou em um punhado de madeiras retorcida, nada fazia lembrar que aquilo era uma canoa, por sorte achamos o Israel do Sumaré que tinha um jipe, nos deu uma carona de volta com a canoa toda retorcida, sei que depois disso passei uns 8 meses fazendo um caminho diferente e mais comprido para ir surfar no Boqueirão (Pedra do jacaré) porque o melhor caminho e mais curto passava em frente da casa do Seu Tião (dono da canoa) ele não deveria estar nada contente com essa historia de descobrir lugares novos para “ pranchar” (como dizia os antigos caiçara).
Portanto esses naufagros foram os descobridores e primeiros a surfarem no Laguinho em l977.

Luciano Sant’anna – Você morou fora do País por um tempo não foi? Surfou aonde nessa época?

MARCÃO - Morei no Japão seis anos e meio divididos em duas viagens, primeira viagem em 1992 fiquei 3 anos e na segunda 1996 mais 3 anos e meio. Surfei na praia de Onjuko cidade irmã de Acapulco no México, ela lembra em tudo a cidade de Acapulco com boas ondas, fui também na península de Izo essa com a maior instabilidade do mundo com muitos abalos dos terremotos e maremotos. No Japão é a terra do trabalho, não te da tempo de se divertir, são doze horas de trabalho por dia de segunda a Sábado, não permite surfar muito, ainda mais eu que morava no interior, pois morar no litoral não é nada bom, pois é só lembrar de Fukushima e seus terremotos e maremotos radioativo. Antes do meu retorno ao Brasil fui com a minha família para Bali na Indonésia, onde deu para surfar aquelas ondas do oceano Indico e conhecer bastante aquela ilha, seus segredos, costumes e crença em bruxas. O vulcão Batur que direto expele fumaça e cinza, vi os cachorros mais gordos do mundo (é que a população de Bali oferece oferendas aos Deuses todos os dias e os cachorros que não sabem de nada se fartam com esses banquetes diários). Bali é uma ilha paradisíaca e seu povo muito hospitaleiro.

Luciano Sant’anna – Nas antigas você sempre surfou esse nosso litoral quando ainda era um deserto e muitas praias eram virgens. Qual foi sua maior onda surfada?

MARCÃO - Eu já surfei tanta onda nestes 36 anos de surf e realmente não sei qual a maior, mas me lembro de alguns dias muito bons. Teve um swell com uma ondulação muito forte em 78/79. As ondas quebraram ao lado da ilha do Sapê, com uma ondulação oceânica, onde dropava reto as esquerdas daquele dia, virando forte na base, projetando a prancha para uma rasgada mais forte ainda no lipe. Estavam tão perfeitas que depois era só escolhe o repertorio das manobras. Teve também uma trip para praia do Felix em 1977 com o Salim, Serginho Burihan e Paulinho Meireles. Em outro carro estavam: o Paulão e Stive que vinham de uma viagem da Califórnia, América Central e América do Sul, juntos combinamos de conhecer aquela praia com seus tubos grandes e triangulares. A praia era muito pouco povoada tinha muita goiabeira, pitangueira, abricó e canavial, eu e o Bilão fizemos muita bala de pitanga por la. Gostamos tanto da praia que se fossemos a Ubatuba era direto para o Feliz. Conhecemos a galera local e surfamos juntos com o Bruzzi, Zecão, Pinóia, Demom e Cia. Fomos para Saquarema e surfamos em Itáuna o Maracanã do surf, nos anos 80 rolavam os Festivais de surf lá, lembro que rolou um campeonato internacional e fomos para ver o campeonato a bordo da Kombi do amigo Edson Bola lotada era só alegria. Surfamos quatros dias la naquelas esquerdas grandes antes dos início das baterias e depois na areia as brincadeiras eram de matar de rir. Pior que dois cariocas perceberam que todas nossas pranchas tinham um raio desenhado tipo os da Bolt. Um falava para o outro: _ As pranchas dos paulista parecem tempestades, estão cheias de raios e riam muito dos paulista caiçaras. Lógico que levamos na boa o bom humor carioca e rimos muito também com os caras. E as ondas enormes que peguei em Itaúna, que só tinha na época a igrejinha e um cemitério no conto direito, umas casinhas e uns dois “botecos”. Meu amigão das antigas, o Edson Bola que também me levou para conhecer Maresias no final de 1976, antes mesmo da estrada Rio Santos existir e nem imaginávamos que hoje aconteceriam campeonatos nacionais e internacionais.



Nardinho, Nê "bicudo" Marcão. Os cabras se inspiravam em quem pra surfar? - arquivo pessoal
Luciano Sant’anna – Qual Pico que mais te fascina surfar em Caraguá?

MARCÃO - É a praia Brava que tem uma onda pesada, lá é comum ver 3 a 4 pranchas partidas em dias mais fortes, onde rola bons tubos no inside. Tem a costeira que faz divisa da Martin de Sá com Brava, lá rola uma esquerda realmente grande e muito comprida. Esses dois Picos são rodeados pela mata atlântica com dua fauna e flora riquissimas, esse lugar deve ser defendido por todos nós para que a especulação imobiliária não chegue a esse patrimônio natural e para não virar mais uma praia descaracterizadas com Quioskes poluidores sem redes de esgoto e acompanhado daquelas “musiquinhas”.




Marcão atualmente surf muito na Praia Brava em Caraguá e de 6.4- arquivo pessoal

Luciano sant’anna – Você virou free surfer ( surfa só por prazer) hoje em dia, nunca pensou em voltar a competir mesmo que seja para se divertir nas baterias com os amigos?

MARCÃO – Competia aqui em Caraguá logo que cheguei do Japão, foi uma expectativa grande, pois afinal não competia ha uma década, fui bem na primeira bateria e me dei super bem, passando em primeiro, foi legal mas depois o mar ficou menor, o vento entrou deixou mar todo “picado” (mexido) pensei que iam adiar, relaxei mas depois de um tempo me chamaram para a próxima bateria, sem chances não tinha mais 15 anos e agora estou com 51, mas se tiver um campeonato com boas condições de ondas, competirei com o maior prazer como por diversas vezes que competi em meus 36 anos dedicado ao Surf.

Luciano Sant’anna - quem foram os seus amigos de “barca” nas antigas e hoje em dia quem são?

MARCÃO - Foram tantos, desculpa se eu esquecer de alguém, são muitos. Nos anos 70, andava muito com o Edson Bola, Kaco e o Serginho Burihan. Dos anos 80 pra cá o Bilão, Babão e Nê, eram sempre os mais constantes, depois passei a surfar mais sozinho, pois comprei uma moto com um reck trazeiro, foi a primeira moto com esse tipo de acessório na cidade se não no litoral norte. Na década de 90 passei a quase toda fora do país (para trabalhar para o Japão): Minha esposa Regina que estava sempre comigo. Hoje em dia a Regina e Bilão são meus companheiros de barcas ou qualquer amigo que apareça e tenha disposição pra ir para a praia ainda, Eu vou muito de moto quando o swell entra nos picos da cidade, aí estou mais sozinho.




Serginho Burihan, Marcão e Kaco fazendo sandboard na Martin de Sá anos 70 - arquivo pessoal

Luciano Sant’anna – você tem fama de “rabeador”, principalmente na praia Brava, pode falar um pouco sobre isso?

MARCÃO - Isso não é problema meu e sim da super população de merrequeiros que só aparecem na Brava quando o mar esta pequeno e o dia é de sol, o tempo todo fico escutando (o eu Marção, o eu Marcão o eu Marcão) e na maioria das vezes nem subiram na prancha ainda, acham que vão surfar a onda no grito ou na pressão, fala serio. logo vem uma ressaca com ondas grandes que quebram lá fora e a hora quando a maré esta subindo e a coisa começa ficar muito sinistra, neste instante é que tenho saudades da gritaria dos maroleiros (o eu Marcão, o eu Marcão, o eu Marcão) “Risos” é aquele silencio só com o barulho bom das ondas, fico tentando imaginar aonde será que os merrequeiros e maroleiros estão gritando um contra o outro (o eu, o eu o eu) “Risos” neste E eu vou sempre preferir ser esse “rabeador” ao ver esses merrequeiro, maroleiro, arregão, paneleiro e puxador de bico que entra no mar e não bota para baixo. Ficar la no fundo como uma bóia e só desce intermediaria. Nesses dias grandes que meu surf vem a tona, não esse Surfezinho comédia que vejo por aí que só surfam com ondas pequenas e não respeitam nem os mais velhos. Sei que rabeei surfistas que não tem nada haver com os “merrequeiros” de plantão que só olham para si e não sabem dividir nem uma onda com os amigos como eram nos anos dourados do surf (anos70).




Marcão rabeando os amigos Giglison e Maurão na Brava- arquivo pessoal


Hoje tenho quase 51 anos e passei por tudo, passando pelos problemas pessoais que já passei, mereço um pouco mais de respeito por ser o primeiro Campeão de Caraguá e com 36 anos dedicado ao esporte, com muitos campeonatos disputados dentro e fora da cidade, desbravador e descobridor de vários picos de surf na região e Caraguatatuba. Por causa dessa galera das antigas é que hoje muitos desfrutam dessas facilidades que vocês têm para surfar. Vejo muita coisa nessa nova geração, tanto no free surf como nas competições, acho é porque envolve grana também, gente irritada gesticulam e tudo mais. Uma vez num campeonato fui super prejudicado na final surfando a minha melhor onda, um cara fez uma interferência, não foi anotada, deram para o cara e nem por isso fiquei na areia me esbravejando todo irritado gesticulando, fazendo “tipo” isso é uma atitude que só o Lobão sabe se espessar: É tudo POSE

Luciano Sant’anna - o que você acha que falta para o surf caraguatatubense?

MARCÃO - Acho que ta faltando uma Sede para a Associação, fazer uma pesquisa para saber quantos somos, providenciar carteirinhas o boleto para pagar a mensalidade ou anuidades, e um palanque leve e desmontável e um gerador a diesel para que se possa fazer a tríplice coroa de espera das onda na Martin de Sá, Praia Brava e Laguinho. Esses lugares são os melhores a Praia Brava e o Laguinho com suas ótimas ondas aonde as praias são uma verdadeira arquibancada natural para quem assistir os eventos. O cadastro dos surfistas serviria para pressionar mais as autoridades políticas, quando mais associados mais conquistas. Nossa união conseguirá fazer mais pressão junto a autoridades, políticos e empresas com certeza esta Sede da Associação de Surf de Caraguatatuba sairá da gaveta e vai se tornar uma coisa sólida, a exemplo como a Associação de Vôo Livre, agora é nossa vez e olhar que somos mais velhos como esporte na cidade.








Marcão, Wilson e Julião homenagiados mais de 30 anos depois no dia dos Caiçaras anos 2000 - arquivo pessoal

Luciano Sant’anna - Manda um recado para as novas gerações do surf na cidade?

MARCÃO - Quando observo esta geração é como se fosse a minha geração a muito tempo atrás e quando vejo a galerinha chegando a praia com os olhos brilhantes ao verem a ondulação entrando, sinto que aí tem amor ao surf, acho que essa geração de surfistas tem que ser valorizada, incentivada, instruída e protegida das coisas ruins que sempre insistem em estar por perto, afinal eles são o nossos herdeiros do mar e só eles farão que o sonho do surf nunca se acabe em Caraguatatuba. Torço muitos para que a nova geração conquiste muitos títulos, mas não só no mar, mas na vida, sejam humildes, educados, trabalhadores e honestos, procurem fazer sempre o certo, tenha fé em Deus e acerte o pé na prancha, treinem bantante, estudem e trabalhem também. A vida e grande uma grande oportunidade e oferece muitas coisas em sua complexidade. Um abraço a todos os amigos do Mar em especial a toda nova geração de Surfistas.

Luciano sant’anna - Que acha de ser homenageado no dia do surfista em Caraguá?

MARCÃO - Muito obrigado pelo convite que muito me honra. Eu gostaria de Fazer um agradecimento especial a minha querida mãe: Jandyra Batista Fonseca que faleceu no último dia 17/06/20011, sem o seu incentivo e suas palavras eu seria muito pequeno no meu ser, muito obrigado a minha mãe você que foi a minha primeira e inesquecível torcedora.
Obrigado
“Marcão”. Junho de 2011.


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Luciano Sant'anna
Associação de surf de Caraguá-SP
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